Departamento de Ciências Sociais
ID: 9326
Resumo
Este trabalho trata da aplicação da Fórmula Canônica do Mito, tomando como base a definição de expressão canônica de Alain Côté (2001), em cujo artigo cita 72 expressões que se enquadram nesta definição. Ao analisar crítica e detalhadamente o trabalho referido, notou-se que a maioria delas são o que poderia ser chamado de “imperfeitamente canônicas”. A partir desta observação, decidiu-se pela criação de um modelo próprio, com o objetivo de definir o que seria uma “expressão canônica perfeita”.
O objetivo deste trabalho é a proposta de um modelo de “fórmula canônica perfeita”, a qual será testada empiricamente em um trabalho de Mestrado. Com base nesta definição, analisou-se que existem apenas 6 expressões canônicas perfeitas, as quais conseguiu-se provar neste trabalho que formam três pares simétricos aquirais, os quais, tomados dois a dois, formam três grupos de Klein. Foram resolvidos canonicamente exemplos dos demais pares de expressões perfeitas em Lévi-Strauss, um dos quais até então sem formulação matemática explícita, e o outro para o qual Lévi-Strauss jamais esboçou qualquer tentativa de resolução canônica. Quanto ao par que contém a expressão canônica clássica, utilizou-se um exemplo fora de Lévi-Strauss que ilustra a diferença entre expressões simétricas aquirais, somado aos diversos exemplos explícitos e implícitos da fórmula clássica no próprio Lévi-Strauss. Foi elaborada uma tipologia própria para as seis expressões canônicas perfeitas. Após análise criteriosa, também se descobriu que, se 64 das 72 expressões canônicas de Côté são imperfeitas e 6 são perfeitas, as outras duas são o que foi denominado neste trabalho “expressões canônicas mais-que-perfeitas”, sendo estas um par quiral auto-simétrico em vez de um par simétrico aquiral como as perfeitas. Como resultado final, conseguiu-se provar que, ao contrário do conjunto total das 72 expressões canônicas de Côté, o conjunto das expressões canônicas aqui denominadas perfeitas e mais-que-perfeitas é em si mesmo um conjunto canônico.
Apresentação
ID: 9024
Resumo
Esse trabalho procura explorar as relações existentes entre a relativa popularização das tecnologias da informação e das redes sociais e a crescente polarização nas tomadas de posição política, e de que forma essas relações implicam em transformações nas estratégias de circulação da informação por parte de um segmento de grupos e atores políticos. Teoricamente orientado por uma concepção relacional do conflito político, que incide diretamente no desenho das posições no espaço da produção ideológica, o objetivo geral do trabalho consiste em articular as modalidades do antipetismo (um significante polissêmico) veiculado pelo Movimento Brasil Livre (MBL) dentro de suas redes sociais. Para isso, pretendia-se aplicar o método de análise de conteúdo nos 5 (cinco) vídeos no canal do MBL no Youtube com mais visualizações selecionados pela palavra-chave (PT).
Apresentação
ID: 9360
Resumo
Introdução: O objetivo inicial dessa pesquisa foi analisar as condições de trabalho dos trabalhadores intermitentes no cultivo de uva em uma cidade do sudoeste paulista, São Miguel Arcanjo, no estado de São Paulo. Condições de trabalho que envolvem horário de trabalho, horário de almoço, equipamentos de proteção individual, salário, transporte, direitos trabalhistas, além do contrato em carteira ou não, entre outros fatores. Os trabalhadores da uva são uma categoria de trabalhadores muito bem conhecida nessa cidadezinha do sudoeste paulista, muitos moradores da cidade em situação de desemprego recorrem a época de desbaste e/ou de colheita para o trabalho que é intermitente e temporário. Objetivo: O objetivo geral é compreender as condições e relações de trabalho as quais os migrantes safristas estão submetidos dentro das plantações e colheitas de uva itália e uva niagara na cidade de São Miguel Arcanjo. Os objetivos específicos da pesquisa são: entender se e como esses trabalhadores são assistidos pelo sindicato rural, as formas de contratação desses trabalhadores, se existe contrato de trabalho temporário ou não. Metodologia: Foram combinados os métodos de pesquisa qualitativa com os métodos de pesquisa quantitativa como prosseguimento à pesquisa, algumas perguntas eram abertas para relatos dos respondentes, tanto de trabalhadores rurais como de produtores rurais, para assim conseguir sistematizar os relatos para conseguir explicar as condições de vida dessas pessoas. Resultados e conclusões: Essa pesquisa, por ser uma pesquisa de iniciação científica, não teve o propósito de explicar a realidade de todos os trabalhadores rurais informais que trabalham com uva da cidade, mas de trazer uma contribuição para futuras investigações sobre o trabalho na uva na cidade. Ao longo dessa pesquisa pudemos perceber que ser trabalhador rural não necessariamente implica em ser morador de área rural, e ser morador de área rural não necessariamente implica em se envolver em alguma atividade agrícola. Além de existirem moradores de área rural que trabalham na cidade, existem moradores de área rural que trabalham com o turismo rural. A maioria dos trabalhadores da uva residem na área urbana, embora esse perfil seja maioria, existem outros perfis de trabalhadores de uva da cidade, com exemplo de trabalhadores da uva que também são membros de famílias de agricultores rurais. A fonte dos rendimentos da família de um trabalhador rural não advém apenas do trabalho rural, mas de outras eventuais atividades não agrícolas exercidas por um ou mais membros da família. Outras conclusões que chegamos nessa pesquisa é a de que o trabalho na uva é um trabalho que não pode ser mecanizado, um trabalho manual, desde a plantação até a colheita, mas que existem certas divisões de gênero a partir das funções nas videiras, por exemplo, o desbaste é o trabalho mais comum na cidade de São Miguel Arcanjo, a época de desbaste é a época em que mais precisa de mão de obra, percebemos que na nossa amostra a maior parte das pessoas que trabalha com desbaste é mulher.
Apresentação
ID: 9409
Resumo
Estudos no campo da socialização política frequentemente convergem para a tese de que talsocialização ocorreria massivamente durante a fase pré-adulta (infância e adolescência). Porconsequência, tais estudos acabam por atribuir, primeiramente, grande relevância para o papelsocializador desempenhado por estes ambientes específicos e, em segundo lugar, adotam comopressuposto que os indivíduos quando adultos dificilmente acabam por alterar suas crenças e atitudesem relação à política, sendo, assim, pouco elucidativos quanto aos processos de mudança, alteração eruptura da socialização política influenciados pela própria trajetória de vida dos indivíduos. Nessesentido, o referido estudo procura evidenciar o papel do sistema prisional na socialização política, umavez que tal instituição realiza um cerceamento da liberdade e uma perda da possibilidade departicipação política através do voto. Além disso, destaca-se o fato de que o encarceramento podeconstituir-se enquanto um processo traumático na trajetória de vida dos indivíduos, fomentandoconsequências que extrapolam a vida no cárcere e que influenciam diretamente os processos deressocialização política e social dos egressos prisionais, uma vez que significa a interrupção quase quetotal das dimensões pedagógicas, psicológicas, socializadoras e integradoras relacionas ao processode participação política (LAVALLE, 2011). Com base neste contexto, buscou-se apreender 1) apercepção e a confiança em relação ao Estado e seus aparelhos; 2) a percepção e a adesão àdemocracia enquanto regime político; 3) a percepção e a avaliação que faziam de si enquanto sujeitosque atuam no mundo político através do voto ou de outras formas de participação. Para alcançar taisobjetivos foi realizado o levantamento de dados primários por meio de entrevistas semiestruturadas portelefone com três egressos prisionais, tendo como base a técnica de “história de vida” e “análise detrajetórias” (GOLDENBERG, 1999), dando enfoque às percepções dos sujeitos sobre suas própriastrajetórias, sobretudo a temas referentes a participação e concepções políticas, sem perder de vistaelementos pré e pós-cárcere. Desta forma, por meio das entrevistas foi possível constatar em primeirolugar, uma desconfiança em relação ao Congresso Nacional, Governo Federal, Judiciário e partidospolíticos, expressa sobretudo pela existência de “corrupção” nestas instituições. Em segundo lugar, osegressos prisionais exteriorizaram a importância de elementos fundamentais da democracia como, porexemplo, o direito ao voto, a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão (DAHL, 2001; 2015),mas ao mesmo tempo realizaram sugestões para que determinadas instituições democráticas fossemremovidos e/ou substituídas como, por exemplo, a substituição do Judiciário e do Congresso Nacional
pelas Forças Armadas. Em terceiro lugar, constatou-se um grande apreço pela participação políticaprioritariamente via voto, ainda que se utilizassem também de outras formas tradicionais ou não departicipação. Portanto, acreditamos que o referido estudo atingiu os seus objetivos, bem como tenhacontribuído para o debate nacional acerca do sistema prisional e da trajetória de vida de egressosprisionais, fornecendo para tanto uma perspectiva da Ciência Política e, desta forma, suprindo umalacuna nas abordagens feitas ao tema que partam de tal instrumental teórico (LOURENÇO; ALVAREZ,2018).
Apresentação
ID: 8827
Resumo
Esse trabalho tem como base o projeto intitulado “Entre tecnologias e mercado- O cidadão na cidade inteligente” o qual tem por objetivo compreender o lugar do “cidadão inteligente” nas cidades a partir dos projetos desenvolvidos nesta temática. Partindo do pressuposto que os projetos de Cidades Inteligentes disseminam sobre a necessidade de um cidadão inteligente, o presente projeto vem analisando como o conceito de “cidade inteligente” se constrói e os agentes por trás desse processo. A questão da conceitualização tem destaque nos diversos artigos, documentos e teses analisados até o momento, o que expressa a disputa entre prefeituras, empresas e academia na delimitação do que de fato se enquadra como Smart City (Cidade Inteligente), e assim quem são os indivíduos que correspondem ao perfil de “cidadão inteligente”.
Esclarecer a questão dos indivíduos como supostos principais atores para o empreendimento das Cidades Inteligentes, é um desafio, uma vez que o conceito ainda não é bem delineado e muda de ênfase dependendo do interlocutor. Assim, nesse primeiro momento da pesquisa, o foco tem sido investigar como esse debate tem se desenvolvido e como são explorados os segmentos de atuação das iniciativas tecnológicas promovidas pelo ideal de Smart Cities, são elas: alcance internacional, capital humano, coesão social, economia, governança, meio ambiente, mobilidade e transporte, planejamento urbano e tecnologia.
Além do nível conceitual, trata-se de uma disputa política travada entre os diferentes agentes interessados em dominar o assunto. Por um lado, o nicho empresarial preza por uma narrativa fetichista sobre a tecnologia ( FREITAS, J. apud. Kaika e Swyngedouw (2000), prometendo a resolução eficiente de todos os impasses urbanos através da tecnologia. Por outra perspectiva, tem se desenvolvido um debate crítico na academia quanto aos indicadores de cidade inteligente, as ações promovidas por esses projetos e como problemas estruturais urbanos são diminuídos perante o discurso de hegemonia tecnológica para a resolução desses impasses(VANOLO, 2014). Essas questões mostram como esse conceito “frágil” pode ser moldado de acordo com os interesses do interlocutor (TAMBELLI, 2018). Ademais, a competitividade entre cidades tem sido fomentada nos últimos anos pelo desenvolvimento assíduo de rankings e índices, que intitula cidades como inteligentes ou não, baseando-se em determinados critérios.
Assim, através do levantamento bibliográfico sobre Cidades Inteligentes, a partir de artigos, teses sobre o assunto e dos aportes teóricos da Sociologia Econômica, analisamos o conceito em disputa de Cidade Inteligente, a partir de uma comparação sobre as diferentes conceituações e demonstrando a polissemia desse conceito, o qual torna-se instrumento de legitimação de seu interlocutor.
Temos como primeiras conclusões o fato de que o conceito trata-se de um termo em disputa, que envolve, para além da sua conceitualização técnica, disputas políticas e culturais a respeito de como deve ser uma cidade inteligente. O que evidencia as linhas de poder e conflito que envolvem o tema.
Apresentação
ID: 8841
Resumo
Introdução
A LGBTfobia, que se constitui como aversão, repulsa, ódio e inferiorização de sujeitos não normativos no que tange ao gênero e à sexualidade, se faz presente em várias nuances na vida dos dissidentes de gênero. Neste trabalho, visamos avaliar se e como a LGBTfobia e o bullying incidem no ambiente escolar entre adolescentes.
Objetivo
No presente estudo, pretendemos alcançar os seguintes objetivos, por meio de análises de questionários de percepção e da bibliografia temática: 1) observar a ocorrência de situações de bullying e violência LGBTfóbico(a) em escolas de Ensino Médio do município de São Carlos-SP; 2) compreender quais variáveis mais explicam os preconceitos, e em que medida a associação de marcadores sociais aumenta a condição de violência e vulnerabilidade do indivíduo; 3) observar dentre as variáveis trabalhadas e revelar quais indicadores sociais são mais relevantes para explicar os preconceitos; 4) compreender o que leva estudantes de ensino médio à prática da violência de gênero, por meio de uma análise de percepções e 5) observar o comportamento do corpo docente e direção escolar em situações de bullying, xingamentos e apelidações.
Metodologia
Para alcançar os objetivos, foram utilizados dados primários de um questionário semiestruturado que foi desenvolvido em projeto de extensão da Universidade Federal de São Carlos coordenado por Iasulaitis (2017). O questionário é dividido em duas partes fundamentais: a primeira parte busca levantar dados como a identificação pessoal do respondente, sua composição familiar, sua familiaridade com tecnologias digitais, seus apontamentos sobre bullying e sobre o ambiente escolar. A segunda parte é baseada em um questionário de percepção, que visa a captação de percepções político-sociais, trazendo temas sociais muito latentes, transfigurados em frases do senso comum. O respondente deveria se classificar em um grau de concordância ou discordância em relação às frases.
Resultados
No que tange aos resultados sobre bullying e o ambiente escolar, percebemos dois fenômenos muito coerentes: a (re)distribuição da violência e o ciclo vicioso da prática LGBTfobica. Em relação às variáveis mais explicativas de bullying e preconceito, observamos três: “gordofobia”, a “homotransfobia” e o “racismo”. Em relação à análise de percepção, observamos porcentagens baixas de estudantes que se colocam a favor das concepções do senso comum, como “ser homossexual é pecado”, “está na moda ser homossexual” e “bissexuais são indecisos”.
Conclusões
Com o término da pesquisa, concluímos que a (re)distribuição da violência é um fenômeno latente, o ciclo vicioso da prática LGBTfobica acontece dentro das instituições escolares, e como agravante incide o bullying motivado por diversas formas de orientação sexual. Os dados demonstram que tais práticas ocorrem, na maioria das vezes, de forma velada. Assim, alunos vistos por outros como “mais frágeis” são tidos como objetos de diversão e chacota, com o propósito de humilhar, maltratar e amedrontar as vítimas, referendando os dados de Vencato (2014) e Miskolci (2012).
Apresentação
ID: 8921
Resumo
Introdução
Esta pesquisa buscou analisar os dados referentes aos feminicídios antes e depois da promulgação das duas principais leis desenvolvidas em combate à violência contra a mulher no Brasil, a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio, adquirindo dados referentes ao território nacional, ao estado de São Paulo e algumas cidades do interior do estado, com o intuito de entender a realidade nacional quando o assunto é a forma mais extrema de violência: aquela que vitimiza de forma letal mulheres pelo fato de serem mulheres. Do ponto de vista teórico, foi acionada a teoria do patriarcado e da divisão sexual do trabalho para, posteriormente, adentrarmos no tema do feminicídio.
Objetivo
Buscou-se mensurar o impacto das duas principais legislações em combate à violência contra a mulher no país, a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio, abordando os casos e taxas de feminicídios ocorridos. Com isso, houve uma maior compreensão da realidade brasileira e em que medida tais leis influenciaram nos registros.
Metodologia
Para o desenvolvimento desta pesquisa, foi feito um levantamento de dados estatísticos, obtidos no site do Atlas da Violência – IPEA e do DATASUS, referentes aos feminicídios. Com o objetivo de uma coleta efetiva de dados, levou-se em conta as categorias X85-Y09 e Y35-Y36 do CID-10, permitindo, assim, a abordagem no recorte de anos de 1996 a 2017 para a Lei Maria da Penha e de 2013 a 2017 para a Lei do Feminicídio.
Resultados
A partir dos dados coletados e dos gráficos gerados, foi possível identificar indicadores distintos ao compararmos os dados nacionais com os estaduais, chamando a atenção para o aumento nos casos de feminicídios nos anos posteriores à promulgação da Lei Maria da Penha. Enquanto os casos nacionais se mostraram numa ascensão um tanto quanto acentuada, os casos de feminicídios do estado sofreram uma queda, o que impactou diretamente nas taxas de feminicídios obtidas, além de ser possível entender melhor o comportamento das cidades individualmente. Quanto à Lei do Feminicídio, foi possível perceber uma certa influência na diminuição dos casos no estado de São Paulo, enquanto o Brasil respondeu com um pequeno aumento nos registros.
Conclusão
É visível a presença, até os dias de hoje, do patriarcado nas relações de gênero, o que influencia diretamente nas relações sociais. Com os dados aqui apresentados, foi possível observar uma ascensão no combate à violência contra a mulher, porém, ainda assim, os dados se mostraram inquietantes e assustadores. Isso chama a atenção para a necessidade de uma preocupação contínua do Estado para com as mulheres, de forma que as leis se mostrem efetivas em todo o território nacional, o que demonstra que este ainda é um tema que precisa ser muito discutido e popularizado no país.
Apresentação
ID: 9415
Resumo
É perceptível um crescimento expressivo da produção científica sobre gênero e feminismo no Brasil. Contribuições originais e profícuos debates têm se dado nas últimas décadas sobre o conceito de gênero, envoltos em profundas disputas teórico-epistemológicas e políticas. Conforme Heleieth Saffioti (2004) reconhece, há uma miríade tão ampla de compreensões quanto a este conceito específico que, genericamente, um possível consenso acadêmico e feminista sobre ele pode-se reduzir tão somente a que, como categoria analítica, “gênero” sublinharia “a construção social do masculino e do feminino”. De acordo com a própria Saffioti, no entanto, essa situação era bem diferente em 1967, quando concluiu sua tese de livre-docência intitulada “A mulher na sociedade de classes: mito e realidade”, orientada por Florestan Fernandes. Por isso, inclusive, Saffioti viria a ser reconhecida como pioneira nos estudos sobre a condição da mulher e acerca das relações de gênero no Brasil (GONÇALVES, 2013; MODDA, 2019; LOVATTO, 2018), elaborando com rigor teórico-metodológico um material que posteriormente seria reivindicado como parte dos primórdios da sistematização de uma teoria feminista brasileira. A autora, porém, ofereceu resistência em adotar o conceito de gênero, o fazendo apenas posteriormente em sua trajetória intelectual e com grandes ressalvas, sempre colocando a necessidade de “complementá-lo” com o de patriarcado (SAFFIOTI, 2004, pp. 117-119; MODDA, 2019), no sentido de instrumentalizá-lo para a descrição, entendimento e subversão de experiências e existências concretas. No entanto, mesmo que a utilização nominal do conceito de gênero tenha acontecido apenas ulteriormente, a compreensão sobre a fundamentação histórico-social das relações entre homens e mulheres perpassa toda a obra da socióloga marxista, com mudanças e permanências no que diz respeito a suas determinações mais particulares. Nesse sentido, este trabalho busca apreender os traços mais essenciais da compreensão de Saffioti a respeito de “gênero”, manuseando suas principais elaborações teóricas a respeito do conceito e relacionando sua teorização com sua perspectiva metodológica, o materialismo histórico. Trata-se de uma pesquisa teórica, que busca analisar um conjunto seleto e restrito de textos relevantes de Saffioti, em momentos distintos de seu desenvolvimento intelectual, e de algumas produções científicas acerca da obra da professora. Será utilizado, primordialmente, um referencial teórico-metodológico marxista, para qual o conhecimento sempre expressa – embora não reflita mecanicamente – um dado contexto material, histórico-social (MARX, ENGELS, 2007) e que compreende teoria como a dinâmica contraditória da realidade concreta projetada idealmente (NETTO, 2011). A hipótese que sustentamos aponta para uma compreensão do conceito de gênero por parte de Saffioti como categoria histórica, para além de analítica, identificando-o como uma “gramática sexual” que regula a totalidade das relações humanas de uma dada sociedade (SAFFIOTI, 2004, p. 45; p. 111) – portanto, bem mais amplo frente ao conceito de patriarcado, que implicaria, necessariamente, hierarquia e dominação –, sempre se preocupando com as formas particulares, históricas e transitórias de manifestação das relações de gênero de acordo com os modos de produção, com diferentes processos históricos, tipos específicos de desenvolvimento, posições particulares na Divisão Internacional do Trabalho e relações com o racismo (GONÇALVES, 2011, p. 122; GONÇALVES, 2013; SAFFIOTI, 2013; MOTTA, 2018).
Apresentação
ID: 9336
Resumo
Introdução
A Reforma da Previdência foi fruto de extensos debates registrados em transcrições de plenárias e documentos produzidos ao longo dos processos de tramitação do Projeto de Emenda Constitucional 06/2019 (PEC 06/2019). Os embates político-partidários evidenciavam a discordância quanto às soluções para o que todos identificavam como o problema do "déficit fiscal", que seria, de acordo com os parlamentares, cada vez mais agravado pelo sistema de seguridade social.
Esta pesquisa de iniciação científica se propôs, durante doze meses, a realizar um levantamento documental no site oficial da Câmara dos Deputados, de modo a analisar como modelos econômicos são mobilizados pelos políticos nas articulações e justificativas, contra e a favor, da Reforma da Previdência.
Objetivo
Este projeto teve como objetivo identificar quais eram os modelos econômicos que embasaram as discussões no Congresso Nacional em torno da PEC 06/2019 (Reforma da Previdência) por meio de uma pesquisa etnográfica sobre os debates e argumentos favoráveis e desfavoráveis à admissibilidade da Reforma da Previdência presentes nas narrativas dos Deputados nas plenárias.
Metodologia
Foi realizada a leitura e fichamento de 35 documentos presentes no site oficial da Câmara dos Deputados relativos ao Histórico de Pareceres, Substitutivos e votos, com o intuito de identificar similaridades presentes nos discursos, tanto daqueles que defendiam a admissibilidade da PEC 06/2019 quanto dos que votavam pela inadmissibilidade da mesma.
Os documentos foram classificados em ordem cronológica, tal como constam na página da Câmara dos Deputados, e conforme a identificação de argumentos em comum, de modo que se tornasse mais fácil identificá-los futuramente. Para tal, identifiquei em verde aqueles que apresentavam pontos contrários à PEC 06/2019 (15 documentos); em vermelho os que apontavam argumentos favoráveis à PEC (14 documentos); e em laranja os que, de alguma forma, caminhavam na direção oposta dos apontamentos mencionados no início (6 documentos).
Resultados e conclusões
Para além de apenas uma ciência descritiva de coisas já existentes, a ciência econômica é vista por Michel Callon (1998) como um conjunto de instrumentos que auxiliam na construção de instituições econômicas. Assim, o autor afirma que o sistema econômico espelha-se na ciência econômica, performatizando-a na sociedade. A noção de performatividade proposta por Callon e MacKenzie (2007) me auxiliou na tentativa de mostrar as relações entre a política econômica da Previdência e as teorias econômicas que servem como base para as discussões da Câmara dos Deputados.
Este foi o caso da alternância entre o Regime de Repartição e o de Capitalização Individual. No primeiro, os trabalhadores ativos contribuem para o pagamento dos aposentados. No segundo, é o próprio trabalhador quem dita seu futuro, suas contribuições aqui são destinadas a uma poupança individual. Conclui-se que a performatização de modelos econômicos implicava, durante a Reforma da Previdência, que certos problemas fossem enquadrados como eminentemente econômicos e não sociais. Sendo assim, o debate focava menos no bem estar dos aposentados, do que na capacidade de custeio do sistema como um todo.
Apresentação
ID: 8927
Resumo
Este projeto de iniciação científica teve por objetivo desenvolver uma etnografia sobre a Comunidade que Sustenta a Agricultura de São Carlos a partir da perspectiva da principal interlocutora da pesquisa, a agricultora Dina. A etnografia focou nas práticas e conhecimentos conduzidos por Dina e pelos membros associados, abarcando a heterogeneidade de fluxos (INGOLD, 2015) entre seres humanos e não humanos, e de saberes que circulam na CSA São Carlos. Através das narrativas de Dina durante as entrevistas, e dos relatos de campo coletados junto a agricultora, pude evidenciar três noções, sendo elas: troca, verdade e comunidade. Tais investigações ligadas às práticas e narrativas da agricultora encaminharam-me para discussões sobre técnica, conhecimento e ecologia a partir da Antropologia, que serão brevemente explorados nesta apresentação.
Apresentação
ID: 9023
Resumo
Buscamos observar a formação de comunidades torcedoras sob o contexto de cidades médias. Encontramos na cidade de São Carlos um bom caso para se analisar como ocorrem as afiliações clubísticas na cidade. Diante de seu contexto, a relação da cidade com o futebol profissional pode ser considerada inconsistente, contando com muitas indas e vindas ao futebol profissional, porém sem de fato conseguir se consolidar na prática do esporte.
Pretendemos observar e analisar o imaginário local referente ao futebol, considerando principalmente as identificações com os clubes da cidade, em atividade ou não. Buscamos analisar e categorizar as características identitárias referentes aos clubes locais; observar e identificar o imaginário torcedor da população e dos torcedores; observar a dinâmica competitiva e sociabilidade torcedora entre os cidadãos, os torcedores do mesmo time, e torcedores “rivais”; e compreender a importância desses clubes para a cidade e sua população.
Para analisar a sociabilidade entre os torcedores de futebol dentro de uma cidade bitorcedora, onde os clubes são ainda dependentes da imagem da cidade, nossa pesquisa a princípio tomaria como base o trabalho de campo, como principal forma de observação e análise dos critérios de partilha de emoções da população entre os clubes. Com a emergência do COVID-19 e todos seus reflexos, foram feitas diversas mudanças metodológicas e de abordagens, de forma que possibilitasse o prosseguimento da pesquisa sem maiores prejuízos.
Se tratando de redes de sociabilidade torcedora no geral - muitos anônimos, muitos de difícil contato -, optei por não dar prosseguimento através de entrevistas online. Uma vez que tomamos a sociabilidade como método, devido suas respostas, espontâneas e jocosas, que correspondem aos nossos objetivos nessa pesquisa, creio que este método não apenas não é o mais apropriado, como creio que deturparia nossas finalidades, acabando mais por atrapalhar do que ajudar.
O quadro que encontramos hoje é que pela primeira vez na história presenciamos a existência simultânea de duas equipes profissionais representando o futebol de São Carlos, disputando o imaginário e o coração torcedor da população de São Carlos. Neste caso, a rivalidade não se comporta de forma excludente, anulando o outro. Através da ideia de bifiliação, dentro do caráter local desses torcedores encontraremos a cidade como ponto de intersecção entre os clubes, fazendo o seu torcer muito menos rígido, e muito mais volátil - podendo assim compartilhar o torcer com ambos os clubes, pois sua preferência clubística está mais ligada ao local, de acordo com sua identificação com a cidade, do que com os times em si.
Observamos que ainda que a história do futebol profissional na cidade seja inconsistente, e marcada por interrupções na prática do esporte a nível profissional, o mesmo não ocorre com o imaginário local. Este continua trabalhando de forma cumulativa, vezes agregando clubes entre si e vezes os antagonizando. Ainda que alguns clubes surjam e outros deixem de existir no que se refere à prática do futebol profissional, o imaginário torcedor continua em exercício, perpassando a ideia temporal de existência de times - ou sua prática em nível profissional.
Apresentação
ID: 9069
Resumo
Num contexto de ampla disseminação de tecnologias de informação e comunicação (TIC) no Brasil, bem como o uso destas por personalidades de relevância política como Jair Bolsonaro e Donald Trump, a ponderação quanto ao processo de aquisição de informação política ganha relevância, justamente porque o objeto desse conteúdo pode bem estar na rede ou até ser a fonte da informação disseminada. Logo, o objetivo deste trabalho foi apreender se os youtubers políticos indicados por Bolsonaro em seu Twitter atuam como informantes para assuntos políticos. Para isso, uma breve revisão bibliográfica foi feita sobre a comunicação política intermediada e da disseminação de conteúdo pela Internet, a saber, nos conceitos de líder de opinião e de influenciador digital. Em seguida, foi construída uma tipologia quanto à proximidade do youtuber de um agir informante, dentro da abordagem da Análise de Conteúdo, indo do mais informante sobre um tema ao menos informante. Posteriormente, foi concluído que o material desses criadores se encontra num intermediário da tipologia: não informam profundamente sobre o assunto central dos vídeos, mas apresentam aos seus espectadores conteúdos que também não são vazios de valor informativo. Apesar disso, este material vem em grande quantidade, cheio de lugares-comuns e de forma rasa.
Apresentação