Departamento de Sociologia

    AS FORMAS DE RESISTÊNCIA DOS TELEOPERADORES NO MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS – SP

    Autores: Paulo César Taliberti Lovo, Aline Suelen Pires

    ID: 9259

    Resumo

    Com a reestruturação produtiva do sistema capitalista a partir da década de 1970, rompendo com a gerência de trabalho focada em modelos fordistas, novas formas de trabalho entraram em cena. O período, que compreende o começo dos anos de 1970 - crise do petróleo de 1973 e crise do fordismo - até os dias atuais - que abrange reformas trabalhistas e mudança de discurso sobre o trabalho -, é marcado por um processo de flexibilização, tanto no aspecto do gerenciamento do trabalho, como também dos próprios trabalhos realizados. Essa flexibilização também reconfigurou as mobilizações e lutas coletivas dos trabalhadores. A combinação da reestruturação produtiva pós-década de 1970 com o surgimento e consolidação da revolução informacional, que compreende a utilização em massa da internet comercial, faz com que o trabalho referente ao teleatendimento desponte como uma nova forma de trabalho. Nesse contexto, os teleoperadores compõem uma categoria na qual se encontram contradições entre o uso de novas tecnologias e as antigas formas de gerenciamento do trabalho, assim, a pesquisa teve como objetivo investigar as formas de resistência desses trabalhadores no município de São Carlos - SP, também trazendo à tona questões de como a pandemia de COVID-19 em 2020, no Brasil, interferiu no trabalho desses teleoperadores. O estudo de caso foi realizado com a empresa MAPFRE, foram realizadas entrevistas qualitativas a partir de um roteiro semi-estruturado, com trabalhadores e ex-trabalhadores no setor de teleatendimento. Com a inviabilidade de se realizar mais entrevistas em função da pandemia e suas medidas restritivas, sendo 3 entrevistas insuficientes para uma análise concreta, foram coletados materiais midiáticos e coleta adicional de relatos de trabalhadores em páginas direcionadas aos trabalhadores de teleatendimento e telemarketing da rede social Facebook. Durante a pesquisa, é notável a contradição entre tecnologia e excesso de trabalho, o trabalho não é criativo ou mais autônomo como se espera de trabalhos dentro do escopo das TICs (tecnologias da informação e comunicação), pelo contrário, o trabalho é altamente disciplinado, controlado e repetitivo. Foi constatado também que o teleatendimento é considerado por muitos uma porta de entrada para o mercado de trabalho ou somente como um trabalho temporário, isso explica a grande quantidade de jovens inseridos nessa área, ou seja, não há um desejo para construção de uma carreira na área e a rotatividade de trabalhadores é elevada. A rotatividade de força de trabalho é um dos fatores principais para a ausência do sindicato no dia a dia dos trabalhadores, já que não há possibilidade de construção política a longo prazo. A ação sindical e ações mais disruptivas com o sistema foram notáveis durante o período da pandemia, já que o teleatendimento foi considerado um trabalho essencial e muitos teleoperadores vieram a óbito pelo descaso das empresas - o que não foi constatado em São Carlos. As resistências constatadas são estratégias para amenizar o controle e alta demanda produtiva, é algo ensinado de veteranos para novatos e traz uma sensação de solidariedade no ambiente de trabalho. As micro-resistências existem e foram analisadas como estratégias para se realizar o trabalho, não como resistência política contra a empresa.

    Apresentação

    DARWINISMO SOCIAL EM FAST-FORWARD: UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE LITERATURA CYBERPUNK E AMBIENTALISMO

    Autores: Nicholas Vendramin Ueda, Samira Feldman Marzochi

    ID: 9356

    Resumo

    O cyberpunk enquanto subgênero literário de ficção científica foi um movimento próprio da década de 1980 (LEMOS, 2004). Suas narrativas se passam em cenários futuristas onde se fazem presentes a alta tecnologia e o caos urbano (LEMOS, 2004). Quanto à etimologia da palavra, cyber é derivado de cibernética, enquanto punk se deve à inspiração estética proveniente do movimento anarquista da década de 1970 (AMARAL, 2006; ARAÚJO, 2014). Apesar de suas narrativas se passarem no futuro, o cyberpunk retrata de forma exacerbada o cotidiano vivenciado por seus autores. É por isso que seus expoentes dizem que o que eles faziam não era falar do futuro, mas sim parodiar o seu presente (LEMOS, 2001).

    Neuromancer, escrita por William Gibson (2016) e publicada em 1984, foi a narrativa que formou e ampliou o imaginário da cibercultura, contribuindo para a popularização do cyberpunk na ficção científica (LEMOS, 2001). Já Androides sonham com ovelhas elétricas?, publicada em 1968, não é uma narrativa cyberpunk, mas é uma das principais obras de autoria de Philip K. Dick (2016), escritor de ficção científica cujas obras influenciaram no surgimento do cyberpunk (AMARAL, 2006). Essa influência se fez presente principalmente após o lançamento de Blade Runner, adaptação cinematográfica de Androides sonham com ovelhas elétricas? que sofreu grande influência da estética cyberpunk (AMARAL, 2006).

    Nessas narrativas, para além dos elementos já destacados, é possível constatar a presença de problemas socioambientais. Esses problemas podem passar despercebidos pois não aparecem como foco principal. São tratados como pano de fundo, fazendo parte do cenário onde o enredo se desenvolve. Este estudo, portanto, teve como objetivo analisar o modo como as questões socioambientais aparecem na literatura de ficção científica cyberpunk. Para isso, a partir das narrativas já mencionadas, foram retirados trechos que retratam problemas socioambientais. Posteriormente, os trechos foram classificados em categorias de acordo com a Análise Textual Discursiva elaborada por Roque Moraes (2006).

    A partir da análise dos trechos, constatou-se que as narrativas possuem enfoques diferentes, de modo que não foi possível elaborar um único grupo de categorias que fosse aplicável a ambas. Por isso, cada narrativa foi analisada separadamente. Androides sonham com ovelhas elétricas? apresenta problemas socioambientais decorrentes do uso de armas nucleares; esse imaginário é resultante da Segunda Guerra Mundial e revela o medo de um possível holocausto nuclear durante a Guerra Fria (BEST; KELLNER, 2017). Já em Neuromancer, os problemas socioambientais são decorrentes do estilo de vida urbano.

    Essa mudança de enfoque também ocorreu no ambientalismo entre os anos de 1960 e 1980. Enquanto em 1960 as preocupações ambientalistas se encontravam principalmente na questão nuclear, na década de 1980 esse enfoque transitou para a questão da urbanização, da poluição e da tecnologia (MCCORMICK, 1992). Portanto, é possível perceber que essas narrativas são fruto de seu tempo, mesmo que se passem em um futuro hipotético que, coincidentemente ou não, possui elementos atuais. A partir deste estudo, pôde-se constatar que a literatura pode atuar como uma importante fonte para se compreender o passado, suas preocupações e suas formas de pensamento.

    Apresentação

    JOSÉ ALBERTINO RODRIGUES E AS MARGENS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA

    Autores: Tiago Fernando Afonso, Fabio Jose Bechara Sanchez

    ID: 9533

    Resumo

    A pesquisa trata de apresentar a produção intelectual e publicações acadêmicas de José Albertino Rodrigues associados à sua história de vida e ao contexto histórico no qual viveu o autor, compondo assim uma narrativa tanto da história social da sociologia brasileira, quanto dos comprometimentos do sociólogo com a universidade e a sociedade. Situada no campo da sociologia dos intelectuais, buscamos compreender a trajetória de um sociólogo peculiar, ao mesmo tempo fundamental na institucionalização da sociologia no país e, por outro lado, pouco lembrando quando se fala da constituição da disciplina no Brasil.

    Objetivos:

    1) A aproximação da vida à obra do autor;

    2) Produção de repositório eletrônico com textos do autor disponíveis para acesso público, e;

    3) Entender, através da produção deste autor, quais aspectos perpassam a teoria social realizada em São Paulo e suas respectivas disputas teóricas.

    Metodologia

    Para o desenvolvimento da pesquisa foram empregados quatro tipos de coleta de dados:

    1) levantamento e balanço bibliográfico com vistas a delimitar o campo da sociologia dos intelectuais e suas principais questões;

    2) construção biográfica de José Albertino Rodrigues e a catalogação de seus textos e obras;

    3) balanço bibliográfico sobre o tema biografia, história oral e de vida, de modo a auxiliar na análise teórico metodológica que fizemos e;

    4) levantamento e analise de textos selecionados na RBCS acerca da produção bibliográfica da sociologia no Brasil;

    Resultados:

    A hipótese inicial de que o autor estaria as margens da sociologia no Brasil não se confirmou, uma vez que a coleta de dados apontou que a sociologia do autor é reconhecida e divulgada em importantes bases de dados e revistas nacionais e internacionais, escreveu e participou de importantes capítulos de livros, trabalhou nas melhores universidades do país e atuava junto a sociedade civil não se fechando entre os muros da universidade, favorecendo a dispersão de sua obra no ensino de sociologia no país. De forma geral, os objetivos foram alcançados, tratamos da história de José Albertino Rodrigues, construímos um repositório eletrônico, ou seja, uma pasta online com seus textos e conhecemos a sociologia praticada por ele. Criamos um acesso aos estudantes via centro acadêmico[1] para que as próximas gerações possam ter alguma informação sobre um dos fundadores do curso.

    Conclusões:

    Uma vez que nossa investigação insere o sujeito pesquisado em um campo específico, a Escola Sociológica Paulista, mas com aptidão para um outro tipo de ação social notamos as contradições do próprio campo, tanto de dentro pra fora, quanto ao contrário. Nesse sentido, uma sociologia dos intelectuais tem fortes tendências de se criarem ídolos, caindo assim, na ilusão biográfica, lindas histórias, mas descoladas de ação social. Se a sociologia de Albertino foi marginalizada devido aspectos de sua ação social, que tem fortes aspectos da formação dos anos 1940-50 e das transformações sociais, principalmente civis e sociais, notamos que o fim do século vinte se debruçou as discutir apenas aspectos teóricos estruturais, em oposição à prática que o sujeito pesquisado costumava se engajar.



    [1] CAJAR – Centro Acadêmico José Albertino Rodrigues

    Apresentação

    LGBTQ’S E UNIVERSITÁRIOS: UMA ETNOGRAFIA DO SISTEMA CLASSIFICATÓRIO EM FESTAS UNIVERSITÁRIAS DE UMA CIDADE NO INTERIOR DE SÃO PAULO

    Autores: joão Otávio Galbieri, jorge leite junior

    ID: 9461

    Resumo

    Festas IeS é o nome utilizado pelos alunos do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos para identificar os eventos universitários LGBTQ+ que produzem. Opõem-se aos eventos voltados ao público heterossexual da cidade, porém, por vezes, ocupam os mesmos locais que estes. Portanto, ocorrem em repúblicas (casas compartilhadas por estudantes da USP, UFSCar) ou casas de shows. O dinheiro arrecadado pela produção dos eventos é direcionado a produção de curta-metragens dos estudantes. Através dos desenvolvimentos com o campo foi possível identificar sentidos relacionados a sexualidade e gênero. Dessa forma, a partir da perspectiva teórica de autores e autoras pós-estruturalistas, dos estudos queer e interseccionais, buscou-se questionar e desnaturalizar significados e classificações. Os objetivos foram: (1) Compreender o sistema classificatório relacionado às questões de gêneros; (2) Analisar o que torna possível a ascensão desses eventos no mercado de festas; (3) Compreender as classificações agenciadas pelos interlocutores; (4) Analisar as peculiaridades que os movimentos identitários adquirem localmente.

    Através da leitura das referências bibliográficas e análise dos dados coletados através da observação-participante e da realização de entrevistas é possível caracterizar determinadas práticas e políticas da cena de festas universitárias LGBTQ+ de São Carlos pelo prisma do progressismo político, ao mesmo tempo, também é possível visualizar a reprodução de desigualdades.

    A criação de um espaço seguro para a expressão de sexualidades e gêneros dissidentes, apresentações artísticas envolvendo coletivos da cidade, drag queens; a presença de banheiros unissex, com o intuito de borrar a tradicional divisão sexual dos espaços com base no dualismo masculino/feminino; implementação de grupos de trabalho voltados para redução de danos; desconto para transsexuais, travestis e recebedores de auxílio permanência estudantil, podem ser vistos como fatores progressistas. O valor cobrado pelos ingressos, que podem custar trinta e cinco reais no primeiro lote de eventos em casas de shows da cidade, mesmo com descontos, são um indicativo de classe; a identificação e crítica quanto a predominância de um público homossexual masculino branco, tidos como “um público LGBT padrão” e o agenciamento de distinções baseadas no dualismo ativo/passivo, permitem visualizar a reprodução de desigualdades.

    A partir dos dados coletados é possível afirmar que os termos e categorias classificatórias são diversos e agenciados pelos interlocutores situacional e relacionalmente. Assim, as formas de definição quanto a orientação sexual, identidade de gênero, posições de classe são diversas e surgem como elementos relevantes na percepção e experimentação social do espaço. É possível ver então que ter estudado em escola pública antes da universidade, receber algum auxílio de permanência estudantil e/ou se definir como negro/a pode ser algo comum entre as pessoas que trabalham no bar. Que ter estudado em escola particular, não receber auxílio da universidade e se definir branco, pode ser algo comum entre quem trabalha em outras posições, como a do DJ. Contudo, para além destas desigualdades sociais e hierarquias, que parecem ser mais efeito das contradições da sociedade mais ampla, os dados descritos permitem inferir também que há  negociação nestas posições e não apenas determinismos.

    Apresentação

    TRABALHADORES DIGITAIS: ENTRE A AUTONOMIA E O CONTROLE

    Autores: João Pedro Ferreira Perin, Aline Suelen Pires

    ID: 8865

    Resumo

    As mudanças estruturais e organizacionais na economia capitalista a partir de meados dos anos 1970 romperam com o padrão de acumulação então vigente, baseado no binômio fordismo/keynesianismo. Este período, marcado por uma reestruturação produtiva caracterizada pela flexibilização da produção, veio acompanhado por processos drásticos de transformação tecnológica e informacional. O trabalho tornou-se mais variado e algumas atividades adquiriram formas imateriais que passaram a exigir a criatividade, tendo em vista uma maior demanda subjetiva e de mobilização da inteligência. É diante deste cenário que nossa questão de pesquisa foi se desenhando, em particular, perante as formas de gestão organizacional após a reestruturação produtiva, praticada pelas empresas especificamente do ramo de desenvolvimento de software. Em torno do tema da autonomia dos trabalhadores digitais – tidos como trabalhadores exemplares típicos do trabalho imaterial – e suas percepções acerca das configurações do trabalho advindas de um novo paradigma tecnológico e flexível, buscamos analisar se e de que maneira a autonomia é vivenciada e percebida pelos trabalhadores informacionais que atuam na fábrica de software Cronos (nome fictício), localizada na cidade de São Carlos-SP, além de se discutir as possíveis formas de controle sobre suas atividades. O estudo de caso como método qualitativo utilizado nessa pesquisa, propiciou uma maior profundidade no campo escolhido, sendo uma ferramenta eficiente diante da proposta de apreender percepções dos trabalhadores e mecanismos particulares oriundos da empresa em questão. Buscamos, ao máximo, abordar trabalhadores digitais com funções diversificadas na empresa. Foram realizadas 8 entrevistas de trabalhadores, com funções e perfis diferentes, a partir de um roteiro semiestruturado. Para além das entrevistas, foi possível realizar uma visita à empresa, que proporcionou uma visualização mais clara, tanto do ambiente de trabalho, como dos trabalhadores reunidos e realizando suas atividades cotidianas de maneira espontânea. Pudemos observar que os trabalhadores digitais da empresa Cronos de fato tendem a obter uma margem de autonomia frente à sua atividade, sobretudo se a comparação é com atividades mais mecânicas e/ou padronizadas. Constituem-se em meio a um contexto flexível e intelectual por excelência, resultando em um maior controle do próprio trabalhador sobre sua atividade de elaboração do produto. Sendo assim, esse trabalhador exibe características subjetivas tais como criatividade, habilidades comunicativas e autonomia. Entretanto, esta autonomia, por vezes, se manifesta de forma limitada. A presença de etapas que compreendem enrijecimento, padronização, prestação de contas, remanescentes de práticas tayloristas/fordistas contrariam a autonomia prometida ao trabalhador e institucionalizada pela empresa. O intermédio da forma organizativa de produção e sua particularidade, outorgada pela fábrica Cronos através do modo outsourcing de produção, acaba por instituir elementos que, exemplificados pelo fenômeno constante de intervenção do cliente na produção, representam importantes limitadores da criatividade e autonomia na atividade de produção do software. A autonomia no trabalho informacional deve ser relativizada, tanto para a questão de controle absoluto, tanto para uma concepção de um trabalhador dotado de independência, autonomia e subjetividade emancipada.

    Apresentação